“Você não mudou nada, cara. Só a idade que mudou, o
resto continua tudo igual”. Lembro-me dele me dizendo isso durante uma de
nossas longas e diárias conversas pelo celular. Acho que ele não sabia, mas
sempre me preparava para ter todo o tempo livre do mundo para poder ouvi-lo
falar, rir e me fazer sonhar. Foi assim durante alguns meses, um contato
sagrado o qual estabelecemos quase que como um mantra. Fazia-nos bem, sei
disso. “Você não mudou nada”, e de repente tudo mudou pra mim. Da segunda vez
pra melhor, quase que como num conto de fadas, mas da terceira posso dizer que
se pareceu muito mais como algum poema de Byron. Depressivo, obscuro, confuso,
melancólico e desesperador. Foi assim que tudo começou e acabou de novo.
Estranho repensar isso depois desses quatro meses. Nostálgico. Sabe, ainda me
pego pensando nele, naqueles olhos claros dos quais eu tanto necessitava olhar
e que agora ao invés de abrir os meus para os enxergar preciso forçar minhas
vistas para relembrar. Dói. Nem faço mais esforço pra esquecer, sei que não é o
que meu coração quer. Deixa que o tempo sabe o que fazer, se destrói, se traz
de volta ou se me leva junto com ele. Tanto faz, não tenho mais certeza; na
verdade é bem provável que eu jamais tenha tido. Quando paro e penso nele
sempre me pego sorrindo. Sabe, aquele sorriso frouxo no começo do dia ao acordar,
aquele durante a tarde por estar em algum lugar que me faz lembrar, ou ainda à
noite antes de pegar no sono. Ele sempre esta comigo, meio louco pensar desta
forma, mas é isso que sinto mesmo depois de tanto tempo. “Você não mudou nada”, realmente não e pelo
visto não pretendo mexer nisso tão cedo.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Catarse diária
Sabe quando a solidão começa
a ser realmente um problema? Quando ela começa a te incomodar. Pode acontecer
de uma forma progressiva, de repente um belo dia tu percebes toda a agonia presente
naquele buraco todo, ou pode ser um desespero constante que vai aumentando com
o passar dos anos. O que posso dizer é que tudo isso é uma grande merda. Não
sei se essa minha inconstância é algo pessoal ou outros seres vivos passam por
isso, porque não conheci até hoje alguém que realmente se importasse com essas
coisas, que demonstrasse ao menos a metade de meu desespero. Talvez eu até
tenha conhecido alguém assim, mas quem sabe essa pessoa seja mais covarde do
que determinada pra realmente mudar toda uma situação desagradável em sua vida.
Pior do que apenas a solidão é a junção dela com a saudade. Caramba! Quando
isso acontece (o que me é tão familiar) não há coração que aguente. Já sou uma
pessoa extremamente sensível, quando resolvo me afundar nessas porcarias
sentimentais nunca acabo bem, mas não é algo que eu possa recuar, entendem? Dizer
a uma pessoa o que ela pode ou não fazer, quem ela pode ou não amar e quais
sentimentos ela deve expressar sendo que durante toda sua vida sempre exprimiu
com total sinceridade e liberdade tudo o que lhe pareceu relevante é a pior
prisão de todo o mundo. Viver com algo tão forte guardado em seu coração e não
poder gritar sobre isso funciona com uma bomba relógio.
Parei hoje e me deixei levar por todo o desespero que sentia, já fazia
algum tempo que estava me controlando pra evitar isso, visto que sempre acabo
muito debilitada quando resolvo me “entregar a tristeza”, mas hoje não tive
como escapar. Acordei e me deparei com o tempo fechado e a chuva fina que caía
pela manhã. Percebi que estava frio, senti aquela sensação gostosa de estar
enrolada ao edredom, deitada na cama e ouvindo o barulho da chuva. Aquele cheiro
de mato molhado, sabem? Adoro esse conjunto todo, ainda mais no meio da semana,
parece que ameniza um pouco o cansaço do trabalho e de todo a correria diária. Poderia
ser mais um dia comum, eu me levantar, tomar um banho, arrumar as coisas para o
trabalho e não pensar muito. Realmente, quando não precisamos pensar parece que
as coisas passam mais rápidas e plácidas. Comigo isso é bem difícil de
acontecer, e hoje foi um daqueles dias difíceis no trabalho, principalmente
porque fui colocada em uma situação a qual eu não tinha nenhuma responsabilidade
de estar. Enfim, ossos do ofício.
Durante o caminho pra casa percebi que estava com o guarda-chuva aberto
quase que por hábito, afinal estava chovendo muito e em minha mochila estavam os
livros das turmas, provas, trabalhos... desisti do guarda-chuva, me permiti ser
molhada por aquela água toda, senti a temperatura cair, o arrepio em minha pele
e as gotas de água que embaçavam minha
visão. Cheguei, corri para o quarto, fechei a porta, larguei a mochila e
gritei. Alguns chamam isso de catarse, se não me engano. Já havia feito isso
algumas vezes, e lhes garanto que em nenhuma delas tive uma experiência
agradável. Dizem que alivia o estresse da pessoa, servindo como uma descarga
emocional. Ou essas pessoas estão mentindo, ou eu tenho realmente um grande
problema. De todo o modo o desespero não é algo com o qual alguém possa viver
bem, a maioria das pessoas que sentem isso e não conseguem raciocinar sobre
seus atos acabam fazendo grandes burradas levadas unicamente por esse
sentimento destruidor. Eu devo ser bem madura nesta questão, até hoje o máximo
que fiz foi gritar sozinha em meu quarto.
O que realmente gostaria de dizer é que existem pessoas que fazem uma
falta imensa em minha vida, principalmente porque são elas que me impulsionam
sempre a continuar seguindo, a pensar positivamente e nunca desistir do que
tanto almejo. Não tenho problema algum em procurar meus amigos, começar uma
conversa ou até mesmo marcar algum encontro, afinal não existe outro meio se
não a comunicação para que eles saibam que gostaria de vê-los. Porém não ser
procurada, não receber nenhuma demonstração de preocupação muitas vezes me
deixa entristecida. Carência talvez, mas creio que seja muito mais uma questão
de amizade e de preservar por perto aqueles os quais tu realmente queres ter ao
teu lado.
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Bizarrices comportamentais
Vida social é um porre. As
pessoas possuem o “dom” de serem capazes de estragar totalmente teu dia se algo
negativo acontecer nas primeiras horas da manhã, ou acabar com um fluxo
positivo que estava contigo desde o momento em que acordastes, basta uma
palavra, um olhar, uma atitude que acaba te deixando puto da vida. Esses tipos
de gente não se importam com isso, alguns até se sentem intensamente felizes
por terem te feito mal, como se tomassem para si um tipo de “mantra” diário
embasado na tristeza alheia. São uns babacas! O duro é que nem precisa ser uma
pessoa desconhecida pra te ferrar, quantas pessoas existem no teu convívio
social as quais te fazem sentir uma vontade quase que arrebatadora de bater,
xingar, explodir ou mandar pra outro planeta? Esses tipos são aqueles que
diariamente te tiram o bom humor, a crença de um mundo melhor, a esperança nas
pessoas. E isso é terrível! Muitas vezes me pego pensando, duvidosamente, qual
seria a melhor atitude a se tomar nesses casos: partir para a ignorância,
confrontar, bater boca e fazer com que a pessoa se “toque” que esta deveras
errada, ou me segurar, abaixar a cabeça e esperar que ela se “ferre” por conta
própria? É bem complicado em um momento de extrema tensão ser capaz sequer de
pensar, ainda mais estipular duas opções possíveis para a próxima atitude a ser
tomada. Mas eu consigo, mesmo que seja uma fração de segundos os quais utilizo
para raciocinar intimamente, me seguro, escolho uma das opções e faço.
Normalmente prefiro ficar quieta, afinal mesmo com todos os argumentos e fatos
do mundo muitas pessoas ainda são totalmente ignorantes. Vida cruel. Sociedade
burra. Burra!
Honestamente cada vez mais meu círculo de
amigos esta restrito, não sou uma pessoa que consegue se relacionar com todos
os tipos de gente, desenvolver qualquer conversa estúpida e desinteressante.
Não é questão de preconceito, mas sim de interesses pessoais. Alguns dizem que
sou muito “intelectual” para uma conversa solta, o que discordo. Ninguém é
obrigado a ter os mesmos interesses que eu, mas certamente que se houverem
pontos em comum será muito mais “fácil” conversar e interagir comigo. O que não
significa que eu não seja capaz de conversar sobre qualquer besteira, afinal se
há uma sintonia entre as pessoas o assunto pode ser até sobre o tempo que
certamente será incrível. Não é mesmo?
Novamente preciso falar sobre a
sinceridade, porque existem tantas pessoas que insistem em não priorizar isso
que me faz ficar puta da cara (de novo). Poxa, não há sentido em querer ser
algo que tu não és! Ou pior ainda, querer ser outra pessoa. Bá, quando vejo
isso acontecer tão perto de mim a vontade que sinto é de sair correndo para as
colinas. É tenso! É assustador! Socorro!
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Ossos do ofício?
Esta semana e semana passada estão bem tensas
pra mim, muitos episódios desagradáveis em meu emprego tem me deixado um tanto
quanto triste, além de preocupada com uma série de coisas. Não vou entrar em
detalhes, não é necessário, mas como sempre escrevo sobre o que sinto e penso
achei justo escrever sobre este assunto neste post. Como alguns sabem sou
professora, dou aula em um colégio da rede pública de minha cidade, desde a
época de meu estágio fiz questão de que fosse em colégio público. Nada contra
professores que lecionam na rede privada, mas eu não me sinto à vontade com uma
série de “autoridades” impostas por ela, principalmente no que diz respeito ao
meu modo de ver o ensino e minha metodologia dentro de sala. Enfim, sempre digo
que não sou o “tipo” de professora pro ensino regular. Alguns podem me julgar
por isso, acontece. Mas isso já é uma conversa pra algum outro dia.
Quando os docentes dizem que já não está
fácil cumprir o horário de trabalho, que sofrem com as condições de serviço, de
salário e principalmente de reconhecimento pelas autoridades e pela própria
população estão sendo até muito educados expondo apenas alguns poucos fatores
dos quais precisamos nos confrontar diariamente. Com todo o respeito, senhores
pais, senhores responsáveis por uma criança ou adolescente que frequente a rede
pública de ensino, seja qual for o período, vocês não fazem ideia do que seus
filhos, sobrinhos, irmãos ou netos fazem no período em que passam dentro da
escola. Sinceramente, vocês não conhecem seus filhos! Ou talvez a ideia de que
respeito se aprende em casa realmente já esteja ultrapassada demais para esses
tais “tempos” em que vivemos hoje. Já não há em grande parte dos alunos a noção
de onde se encontram, para qual finalidade se locomovem até as escola todos os
dias durante a semana toda, tomando grande parte de suas vidas. Perderam o
senso comum, se julgam os “donos do mundo” mesmo antes de completarem se quer o
ensino médio, sem conseguir tirar uma nota azul nos quatro bimestres, sem
passar um dia sem precisar ser chamada sua atenção durante a aula por
conversas, gritos e falta de produção em sala de aula. Não há respeito, no
lugar disso preferem bater de frente com o professor, competir com ele, sendo
que não há jogo, não há ganhador ou vencedor nesta conotação totalmente evasiva
em que se estabelece na mente do meliante. Sim, já não se trata mais de um
aluno em sala de aula, mas sim de um qualquer que esta preparado a tomar as
atitudes mais idiotas e burras de sua vida apenas por ter sido confrontado, por
ter seu pedido negado ou apenas pela sua falta total de bom senso. E o
professor? Bem, este parece ser obrigado a conviver com todas essas situações
todos os dias durante seu horário de trabalho na escola, correndo risco de
morte porque nunca se sabe qual será a próxima atitude do meliante que se
encontra, constantemente, à sua frente. Seu trabalho hoje é sinônimo de perigo,
de morte, de medo. Irônico se pensarmos que o principal “papel” do professor é
o de “formar o caráter” do aluno.
Agora, me digam, me deem uma solução que
realmente funcione para estes e tantos outros problemas que nós, professores,
enfrentamos todos os dias. Alguém se habilita? Acha que consegue fazer melhor?
Eu duvido, e todo esse sentimento de raiva, de tristeza, de medo e de
indignação continuará comigo depois desta noite, e lhes garanto que não sumirá
após eu retornar para as salas de aulas amanhã.
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