segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Rasgar-me


Não há droga que me faça esquecer das perdas da vida. Já procurei de muitas formas amenizar essa dor que carrego há tanto tempo e que a cada ano se torna mais pesada. Sei que meu lamento não faz efeito algum, minhas lágrimas somente irão escorrer pela minha face até alcançar o chão e ali esperar secar. Meu peito que arranho com o desejo desesperado de rasgar-me, puxar pra fora toda essa pressão que pulsa, que me adoece, me enlouquece e me angustia. Dia após dia, longas noites sem dormir, tantas palavras jogadas ao vento sem ninguém escutar, e aqueles que escutam não conseguem compreender. Ninguém entende, apenas tentam consolar. A raiva logo chega, junto com aquela vontade de findar toda essa vida, que se faz tão diferente daquilo que leio nos romances bonitos, nos poemas românticos e que vejo nos filmes com finais felizes. Estou cansada demais, sabe? Não quero saber quais são as respostas, gostaria de não ter mais perguntas. Quantos mais irão passar, quantas vezes eu ainda irei me iludir antes de tudo acabar? Não importa, eu não quero mais. Quero poder me libertar, voar pra bem longe, sentindo o barato que deve ser não estar fincado no chão. Minha cabeça dói, não consigo respirar. Abstinência de vida.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Bixo grilo


Sempre fui do tipo de pessoa pensativa, que questiona aquilo que julga necessário, que sente o quanto certas coisas rotineiras não possuem valor algum de fato, que sente demais aquilo tudo o que as outras pessoas não conseguem perceber e que tende a sofrer por razões das quais muitos ignoram. Tudo isso tem os dois lados da moeda, com o passar dos anos fica um pouco menos difícil de se perceber angustiando, o que ajuda a procurar outro caminho e conseguir sobreviver. A vida é tão difícil, tantas questões para se pensar, decisões para tomar, caminhos para seguir, pessoas para conhecer e outras para aceitar a perda. Nunca estamos prontos para nada, essa é a verdade. Falar sobre suas convicções e expressar seu ponto de vista é algo que sai tão suave de nossa boca, mas que quando confrontá-dos nos tira o chão dos pés, bagunça nossa cabeça e faz com que percamos o rumo.
Algumas poucas pessoas valem a pena, valem tua amizade sincera e ganham teu coração, é quase raro quando acontece. Tu, meu amigo mais lindo, do coração tão bom, dos olhos tão sinceros, do sorriso tão leve e contagiante, o qual aceitou construir nossa amizade lá atrás quando ainda eramos adolescentes, loucos, imaturos e tão mais perdidos do que hoje. Lembro-me como nosso relacionamento foi se modificando, como procurávamos um no outro sempre o apoio nas horas difíceis, a parceria para as loucuras e a compreensão nas conversas difíceis, aquelas que se faziam tão necessárias. Que saudade eu sinto de ti, meu amigo! Com a tua partida inesperada, só e fria tu levou contigo parte de mim, agora sinto-me tendo parte de meu ser arrancada e de meu coração despedaçada. Os dias ajudam, dizem. O tempo cura as feridas, falam. Eu até agora não consigo, amigo. Dói demais…
Tudo o que mudou em mim nestes últimos anos devo parte à ti, meu querido amigo. A pessoa melhor que sou, consciente cada vez mais da necessidade de valorizar a vida, os amigos, familiares e aqueles que tanto me querem bem fazem parte de nossas conversas, de nossas reflexões e ensinamentos que tivemos juntos nesta vida, e quem sabe de outras. Sei que aqui estamos apenas dando um rolê, tentando acertar agora aqueles erros que outrora fizemos, quem sabe nessa dê certo, quem sabe pra ti já tenha dado, meu querido amigo. Pra mim ainda não…
Desesperadamente, após a tua partida física desta vida, procurei formas para preencher a tua falta, tão intensa e dolorosa em mim. Em vão, e ao perceber isso a dor ficou maior porque compreendi que não há nada que eu possa fazer a não ser sentir. Estou neste processo ainda, respeitando meu tempo, tendo picos de tristeza, de estabilidade e continuando a viver. Sei que tu jamais irias querer me ver chorando, agonizando ou me entregando assim, por isso luto para permanecer forte. Por ti, meu amigo.
O que eu puder fazer para confortar aqueles que tanto te amam eu irei fazer, da mesma forma sinto que esse alento também surte efeito em mim. É uma troca, de carinho e de amor que tu deixastes como lição para quem teve esse privilégio de conviver contigo, como amiga, como mãe, como irmã. Quero conseguir enxergar naqueles que estavam próximos a ti o verdadeiro valor deles, ser capaz de perceber aquilo que tu havias compreendido neles para os trazerem para perto de ti. Quero que a tua memória consiga estar presente nos momentos mais felizes de minha vida, no companheirismo entre os amigos, nos abraços de apoio, nas músicas, nos filmes e em tudo que há de mais bonito neste mundo. Me emocionar ao lembrar de como tu se faz presente em tudo não deve ser algo triste, mas feliz. Ainda irei conseguir pensar e sentir assim, amigo. Estou me esforçando. Pode ficar tranquilo agora, em paz na sua totalidade. Vai na fé, assim como tu mesmo deixou dito para nós. Te amo, para sempre.

domingo, 1 de abril de 2018

Congelar

Se fosse possível congelar o tempo, qual época tu irias escolher?
Quais pessoas tu terias ao teu lado?
Qual sensação tu desejarias guardar e viver por mais tempo?
Quais olhares, abraços, beijos e suspiros tu anseias tanto que até lhe falta o ar?
Quais lembranças invadem teus sonhos, confundindo-te e te fazendo duvidar do que foi sonho e do que é real?
E essa tal felicidade que não vem?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

A verdade que assombra

Sempre ouvi e li pessoas dizendo o quanto era “duro” ser adulto e que ninguém te falava a “real”. Hoje eu entendo as duas coisas. Ninguém quer falar como a vida muda totalmente quando tu precisas pagar as próprias contas, comprar comida e produtos de higiene, limpeza e todo o resto pra sobreviver, muito menos o quão desorientado tu ficas quando percebes que és o único responsável por sua vida. Isso é pesado demais! Liberdade por vezes é muita responsabilidade pra uma cabeça que mal se “achou” no mundo, e com isso vem mais um mar de outros questionamentos a serem feitos. Basicamente uma questão que leva à outra que aflora outra em um ciclo infindável de questões, e tudo isso na tua própria cabeça, a mesma que nem sabe cozinhar um feijão sem queimar!
Não basta ser uma pessoa “ferrada” dentro desse sistema que te suga, te constrói para render algo em benefício dos próprios malditos que estão no poder, te fazendo acreditar que precisas “ser alguém”, estudar, ter um emprego, ter sucesso, ter dinheiro e conseguir a tão almejada felicidade. Esse sistema que instaura em ti uma ansiedade sem fim e a instabilidade emocional recorrente, te fazendo acreditar que não passas de um m* por não ter títulos, por não ter passado naquele concurso, por não conseguir lidar com as suas próprias emoções e/ou por não conseguir agradar todo mundo. Em meio a tudo isso tu ainda tens que “saber lidar”com o fato de ser mulher. Ah! Coitadinha dela! Não esta no padrão de beleza, ninguém vai querer “ficar”com ela, ou dar uma oportunidade de emprego por ser gorda, ou por ser alta, por ser negra ou por ter alguma deficiência, ela não serve. Não interessa se ela é inteligente, o que importa é que não esta no padrão. A vida bera os trinta e o que tu fez dela? Qual é o plano? Ainda não casou, nem teve filhos, não consegue parar de ser tão triste...

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Reticências

A respiração nunca me foi de tamanha importância como é agora, talvez essa seja uma das razões pelas quais coloquei meu primeiro cigarro na boca. Adolescência rebelde, conturbada e doida, a gente sempre acaba pagando por ela alguns anos mais tarde. Arrependimento? Não, claro que não. Se eu não tivesse feito antes com toda a certeza faria agora e as chances de ser pior…
Eu e minha eterna conexão sensorial com meu passado que fica pior quando se mora em uma cidadezinha do interior como aqui. As pessoas não vão embora nunca, mesmo quando a oportunidade aparece. Ou pior, voltam. Eu ainda espero ter essa chance…
Como forma de perceber todo o crescimento o qual alcancei durante os anos fico retornando ao passado, não como forma de saudosismo, apenas como um diário onde estão marcados os pontos relevantes de minha vida. O ser humano tem isso, não consegue ver sua própria evolução dentro de um período. Talvez por isso que nunca nos contentemos com o que temos…
Como minha mãe sempre diz: “você sabia que não seria fácil...”

domingo, 29 de outubro de 2017

Inquietações - parte 14

Sobre um olhar atento, inexpressivo e amplo sou capaz de notar como a vida funciona. Os passos dados, os perdidos, os medrosos, e até aqueles que são tão rápidos que quando pisco não os vejo mais. A falta de ordem me incomoda, mas aceito que não sou eu quem vai organizar, pelo menos não o mundo todo. Preciso me atentar as coisas importantes, mas tudo o que me cerca tem seu devido valor, então me perco e acabo de misturando com muitas outras coisas as quais nem mesmo esperava ter contato. Sou mutável, evoluo a cada dia e compreendo cada vez mais algumas atitudes minhas e daqueles que estão ao meu redor. Não posso julgar, mas muitas vezes ao me expressar minha retórica vem contida de deduções e inexperiência acerca do assunto que nem eu mesmo tenho tanta certeza do que estou expressando ali. Sou humana, errante. Por mais inteligente e articulada que seja nunca deve-se perder a orientação de ser apenas mais uma pessoa nesse mundo, nessa vida que nunca saberemos bem o motivo de se estar aqui.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Caixas

     Guardar recordações de momentos, lugares e pessoas que passaram por nós pode ser uma forma de termos pequenas caixas de saudade, que com o passar do tempo se enchem de poeira e apenas servem para ocupar um espaço desnecessário. Durante muitos anos eu guardei várias caixas, hoje não tenho tanto apego, aprendi a valorizar todo o espaço que tenho, físico e emocionalmente. A gente começa a viver bem melhor depois que se entende a real necessidade de todas as coisas acumuladas, desapegar torna-se algo tão natural como lavar uma louça. Não falo isso pela moda minimalista a qual passamos, mas sim por consequência de anos de reflexão sobre meu próprio ser. Coisas materiais perdem o valor da mesma forma que as relações afetivas quando não são tão importantes, elas se desgastam sozinhas apenas com o passar do tempo. Desgastam, desaparecem. Depois de um bom tempo percebemos o quanto o contato com certas pessoas, ou a quantidade de objetos acumulados, ou até mesmo hábitos antigos deixados para trás não nos afetam. Como se nunca estivessem tido espaço algum em nossas vidas.
Ser capaz de criar raízes não significa estar de acordo de como tudo ao seu redor esta, da maneira como se vive e das pessoas as quais te cercam, mas se sentir inteiramente confortável e satisfeito de como elas estão. A mudança faz parte do processo dessa busca, ninguém escapa, não adianta relutar. Hoje me vejo muito melhor do que estava anos atrás, mas ainda existem muitas coisas que me tiram o sono. Ficar estagnada, arrastando amigos, namorados e todas as demais situações inúteis somente nos atrasa como partes de nossa própria evolução interior. Pense nisso.