segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Rasgar-me


Não há droga que me faça esquecer das perdas da vida. Já procurei de muitas formas amenizar essa dor que carrego há tanto tempo e que a cada ano se torna mais pesada. Sei que meu lamento não faz efeito algum, minhas lágrimas somente irão escorrer pela minha face até alcançar o chão e ali esperar secar. Meu peito que arranho com o desejo desesperado de rasgar-me, puxar pra fora toda essa pressão que pulsa, que me adoece, me enlouquece e me angustia. Dia após dia, longas noites sem dormir, tantas palavras jogadas ao vento sem ninguém escutar, e aqueles que escutam não conseguem compreender. Ninguém entende, apenas tentam consolar. A raiva logo chega, junto com aquela vontade de findar toda essa vida, que se faz tão diferente daquilo que leio nos romances bonitos, nos poemas românticos e que vejo nos filmes com finais felizes. Estou cansada demais, sabe? Não quero saber quais são as respostas, gostaria de não ter mais perguntas. Quantos mais irão passar, quantas vezes eu ainda irei me iludir antes de tudo acabar? Não importa, eu não quero mais. Quero poder me libertar, voar pra bem longe, sentindo o barato que deve ser não estar fincado no chão. Minha cabeça dói, não consigo respirar. Abstinência de vida.