Ela acorda às 2h e não consegue mais pegar no sono. Sabe
que em partes a culpa é sua, chegou do trabalho ao fim da tarde, jantou, perdeu
alguns minutos em frente à televisão e caiu no sono. Dia cansativo, como todos
os outros. Algumas alegrias durante o trabalho, seus alunos arrancam alguns
sorrisos ao longo das aulas, mas nada demais. Ela sabe que se não fossem eles
talvez não houvesse motivação alguma para sair da cama, onde ela se encontra
neste exato momento. E pra finalizar o tédio da madrugada ainda chove. Essa chuva
que começou na madrugada do dia anterior durou a tarde toda e ainda cai lá
fora. Céus! Ainda! Ela sempre achou incrível admirar a chuva, o vento, o sol. Esses
fenômenos da natureza que, de alguma forma, a deixavam hipnotizada por horas. Mas
isso mudou um pouco. Hoje em dia ela já não se sente tão à vontade enquanto
chove, estando ou não se molhando. Talvez a constância das chuvas em sua cidade
e nas cidades por onde passou durante suas férias recentes tenham contribuído
para que tal encanto diminuísse. Na madrugada solitária, fria e chuvosa ela
começa a sentir-se agoniada com tanta chuva. Não há para onde fugir, se
esconder, ignorar. Os fones podem abafar o barulho das gotas que caem lá fora,
mas ela ainda assim sente aquele cheiro de mato molhado e sabe exatamente que a
chuva não parou. Esta lá, soberana, molhando tudo e todos que não possuem um
abrigo. O que ela, humilde ser humano, com sua crise habitual de insônia iria
fazer a este respeito? Nada. Chorar talvez alivie seu estresse por algum tempo,
mas ela já cogita a insuportável dor de cabeça pela qual terá que passar se
entregando ao desespero das lágrimas. Não, melhor segurar o choro. Olha para
seu lado, sobre seu puff feito de garrafas pets se encontram dois livros, um o
qual fez questão de comprar por se tratar de um autor admirado, Bukowski, e
outro que ganhou. Também há uma simples lâmpada que a impede de ficar na
penumbra absoluta do quarto, muito útil para seus momentos de leitura durante a
madrugada. E com isso ela lembra que já devorou algumas páginas do livro
naquela noite, mas que havia interrompido a leitura por conta de sua irritação
com a chuva. Oh! Finalmente ela parou! Percebe instantaneamente que já não há
som de sequer uma gota de chuva caindo e se sente melhor. Respira profundamente
algumas vezes e agradece à mãe natureza por ter dado uma trégua. Tudo bem,
agora talvez seja uma boa hora de desligar a luz e dormir, certo? Inveja
aqueles que conseguem fazer isso, ainda mais àqueles que estão em sono profundo
por horas enquanto ela ainda continua acordada. Por que é assim? Quantas vezes
tentou usar medicamentos para se ter um sono saudável e horários normais,
frustrando-se ao se deparar com um cansaço excessivo durante todo o dia. Optou por
não usar mais nada, não tentar mais nada. Quem sabe ela seja um caso perdido,
ou nem isso. Casos perdidos algum dia foram encontrados por algo ou alguém que
os perdeu, certo? E se ela apenas existisse sem uma razão específica? É, pelo
jeito a madrugada vai ser longa.
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