Não
há droga que me faça esquecer das perdas da vida. Já procurei de
muitas formas amenizar essa dor que carrego há tanto tempo e que a
cada ano se torna mais pesada. Sei que meu lamento não faz efeito
algum, minhas lágrimas somente irão escorrer pela minha face até
alcançar o chão e ali esperar secar. Meu peito que arranho com o
desejo desesperado de rasgar-me, puxar pra fora toda essa pressão
que pulsa, que me adoece, me enlouquece e me angustia. Dia após dia,
longas noites sem dormir, tantas palavras jogadas ao vento sem
ninguém escutar, e aqueles que escutam não conseguem compreender.
Ninguém entende, apenas tentam consolar. A raiva logo chega, junto
com aquela vontade de findar toda essa vida, que se faz tão
diferente daquilo que leio nos romances bonitos, nos poemas
românticos e que vejo nos filmes com finais felizes. Estou cansada
demais, sabe? Não quero saber quais são as respostas, gostaria de
não ter mais perguntas. Quantos mais irão passar, quantas vezes eu
ainda irei me iludir antes de tudo acabar? Não importa, eu não
quero mais. Quero poder me libertar, voar pra bem longe, sentindo o
barato que deve ser não estar fincado no chão. Minha cabeça dói,
não consigo respirar. Abstinência de vida.
Flores no Aquário
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
quarta-feira, 23 de maio de 2018
Bixo grilo
Sempre fui do tipo de pessoa
pensativa, que questiona aquilo que julga necessário, que sente o
quanto certas coisas rotineiras não possuem valor algum de fato, que
sente demais aquilo tudo o que as outras pessoas não conseguem
perceber e que tende a sofrer por razões das quais muitos ignoram.
Tudo isso tem os dois lados da moeda, com o passar dos anos fica um
pouco menos difícil de se perceber angustiando, o que ajuda a
procurar outro caminho e conseguir sobreviver. A vida é tão
difícil, tantas questões para se pensar, decisões para tomar,
caminhos para seguir, pessoas para conhecer e outras para aceitar a
perda. Nunca estamos prontos para nada, essa é a verdade. Falar
sobre suas convicções e expressar seu ponto de vista é algo que
sai tão suave de nossa boca, mas que quando confrontá-dos nos tira
o chão dos pés, bagunça nossa cabeça e faz com que percamos o
rumo.
Algumas poucas pessoas valem a pena,
valem tua amizade sincera e ganham teu coração, é quase raro
quando acontece. Tu, meu amigo mais lindo, do coração tão bom, dos
olhos tão sinceros, do sorriso tão leve e contagiante, o qual
aceitou construir nossa amizade lá atrás quando ainda eramos
adolescentes, loucos, imaturos e tão mais perdidos do que hoje.
Lembro-me como nosso relacionamento foi se modificando, como
procurávamos um no outro sempre o apoio nas horas difíceis, a
parceria para as loucuras e a compreensão nas conversas difíceis,
aquelas que se faziam tão necessárias. Que saudade eu sinto de ti,
meu amigo! Com a tua partida inesperada, só e fria tu levou contigo
parte de mim, agora sinto-me tendo parte de meu ser arrancada e de
meu coração despedaçada. Os dias ajudam, dizem. O tempo cura as
feridas, falam. Eu até agora não consigo, amigo. Dói demais…
Tudo o que mudou em mim nestes últimos
anos devo parte à ti, meu querido amigo. A pessoa melhor que sou,
consciente cada vez mais da necessidade de valorizar a vida, os
amigos, familiares e aqueles que tanto me querem bem fazem parte de
nossas conversas, de nossas reflexões e ensinamentos que tivemos
juntos nesta vida, e quem sabe de outras. Sei que aqui estamos apenas
dando um rolê, tentando acertar agora aqueles erros que outrora
fizemos, quem sabe nessa dê certo, quem sabe pra ti já tenha dado,
meu querido amigo. Pra mim ainda não…
Desesperadamente, após a tua partida
física desta vida, procurei formas para preencher a tua falta, tão
intensa e dolorosa em mim. Em vão, e ao perceber isso a dor ficou
maior porque compreendi que não há nada que eu possa fazer a não
ser sentir. Estou neste processo ainda, respeitando meu tempo, tendo
picos de tristeza, de estabilidade e continuando a viver. Sei que tu
jamais irias querer me ver chorando, agonizando ou me entregando
assim, por isso luto para permanecer forte. Por ti, meu amigo.
O que eu puder fazer para confortar
aqueles que tanto te amam eu irei fazer, da mesma forma sinto que
esse alento também surte efeito em mim. É uma troca, de carinho e
de amor que tu deixastes como lição para quem teve esse privilégio
de conviver contigo, como amiga, como mãe, como irmã. Quero
conseguir enxergar naqueles que estavam próximos a ti o verdadeiro
valor deles, ser capaz de perceber aquilo que tu havias compreendido
neles para os trazerem para perto de ti. Quero que a tua memória
consiga estar presente nos momentos mais felizes de minha vida, no companheirismo entre os amigos, nos abraços de apoio, nas músicas,
nos filmes e em tudo que há de mais bonito neste mundo. Me emocionar
ao lembrar de como tu se faz presente em tudo não deve ser algo
triste, mas feliz. Ainda irei conseguir pensar e sentir assim, amigo.
Estou me esforçando. Pode ficar tranquilo agora, em paz na sua
totalidade. Vai na fé, assim como tu mesmo deixou dito para nós. Te amo, para sempre.
domingo, 1 de abril de 2018
Congelar
Se
fosse possível congelar o tempo, qual época tu irias escolher?
Quais
pessoas tu terias ao teu lado?
Qual
sensação tu desejarias guardar e viver por mais tempo?
Quais
olhares, abraços, beijos e suspiros tu anseias tanto que até lhe
falta o ar?
Quais
lembranças invadem teus sonhos, confundindo-te e te fazendo duvidar
do que foi sonho e do que é real?
E
essa tal felicidade que não vem?
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
A verdade que assombra
Sempre
ouvi e li pessoas dizendo o quanto era “duro” ser adulto e que
ninguém te falava a “real”. Hoje eu entendo as duas coisas.
Ninguém quer falar como a vida muda totalmente quando tu precisas
pagar as próprias contas, comprar comida e produtos de higiene,
limpeza e todo o resto pra sobreviver, muito menos o quão
desorientado tu ficas quando percebes que és o único responsável
por sua vida. Isso é pesado demais! Liberdade por vezes é muita
responsabilidade pra uma cabeça que mal se “achou” no mundo, e
com isso vem mais um mar de outros questionamentos a serem feitos.
Basicamente uma questão que leva à outra que aflora outra em um
ciclo infindável de questões, e tudo isso na tua própria cabeça,
a mesma que nem sabe cozinhar um feijão sem queimar!
Não
basta ser uma pessoa “ferrada” dentro desse sistema que te suga,
te constrói para render algo em benefício dos próprios malditos
que estão no poder, te fazendo acreditar que precisas “ser
alguém”, estudar, ter um emprego, ter sucesso, ter dinheiro e
conseguir a tão almejada felicidade. Esse sistema que instaura em ti
uma ansiedade sem fim e a instabilidade emocional recorrente, te
fazendo acreditar que não passas de um m* por não ter títulos, por
não ter passado naquele concurso, por não conseguir lidar com as
suas próprias emoções e/ou por não conseguir agradar todo mundo.
Em meio a tudo isso tu ainda tens que “saber lidar”com o fato de
ser mulher. Ah! Coitadinha dela! Não esta no padrão de beleza,
ninguém vai querer “ficar”com ela, ou dar uma oportunidade de
emprego por ser gorda, ou por ser alta, por ser negra ou por ter
alguma deficiência, ela não serve. Não interessa se ela é
inteligente, o que importa é que não esta no padrão. A vida bera
os trinta e o que tu fez dela? Qual é o plano? Ainda não casou, nem
teve filhos, não consegue parar de ser tão triste...
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
Reticências
A
respiração nunca me foi de tamanha importância como é agora,
talvez essa seja uma das razões pelas quais coloquei meu primeiro
cigarro na boca. Adolescência rebelde, conturbada e doida, a gente
sempre acaba pagando por ela alguns anos mais tarde. Arrependimento?
Não, claro que não. Se eu não tivesse feito antes com toda a
certeza faria agora e as chances de ser pior…
Eu
e minha eterna conexão sensorial com meu passado que fica pior
quando se mora em uma cidadezinha do interior como aqui. As pessoas
não vão embora nunca, mesmo quando a oportunidade aparece. Ou pior,
voltam. Eu ainda espero ter essa chance…
Como
forma de perceber todo o crescimento o qual alcancei durante os anos
fico retornando ao passado, não como forma de saudosismo, apenas
como um diário onde estão marcados os pontos relevantes de minha
vida. O ser humano tem isso, não consegue ver sua própria evolução
dentro de um período. Talvez por isso que nunca nos contentemos com
o que temos…
Como
minha mãe sempre diz: “você sabia que não seria fácil...”
domingo, 29 de outubro de 2017
Inquietações - parte 14
Sobre
um olhar atento, inexpressivo e amplo sou capaz de notar como a vida
funciona. Os passos dados, os perdidos, os medrosos, e até aqueles
que são tão rápidos que quando pisco não os vejo mais. A falta de
ordem me incomoda, mas aceito que não sou eu quem vai organizar,
pelo menos não o mundo todo. Preciso me atentar as coisas
importantes, mas tudo o que me cerca tem seu devido valor, então me
perco e acabo de misturando com muitas outras coisas as quais nem
mesmo esperava ter contato. Sou mutável, evoluo a cada dia e
compreendo cada vez mais algumas atitudes minhas e daqueles que estão
ao meu redor. Não posso julgar, mas muitas vezes ao me expressar
minha retórica vem contida de deduções e inexperiência acerca do
assunto que nem eu mesmo tenho tanta certeza do que estou expressando
ali. Sou humana, errante. Por mais inteligente e articulada que seja
nunca deve-se perder a orientação de ser apenas mais uma pessoa
nesse mundo, nessa vida que nunca saberemos bem o motivo de se estar
aqui.
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
Caixas
Guardar
recordações de momentos, lugares e pessoas que passaram por nós
pode ser uma forma de termos pequenas caixas de saudade, que com o
passar do tempo se enchem de poeira e apenas servem para ocupar um
espaço desnecessário. Durante muitos anos eu guardei várias
caixas, hoje não tenho tanto apego, aprendi a valorizar todo o
espaço que tenho, físico e emocionalmente. A gente começa a viver
bem melhor depois que se entende a real necessidade de todas as
coisas acumuladas, desapegar torna-se algo tão natural como lavar
uma louça. Não falo isso pela moda minimalista a qual passamos, mas
sim por consequência de anos de reflexão sobre meu próprio ser.
Coisas materiais perdem o valor da mesma forma que as relações
afetivas quando não são tão importantes, elas se desgastam
sozinhas apenas com o passar do tempo. Desgastam, desaparecem. Depois
de um bom tempo percebemos o quanto o contato com certas pessoas, ou
a quantidade de objetos acumulados, ou até mesmo hábitos antigos
deixados para trás não nos afetam. Como se nunca estivessem tido
espaço algum em nossas vidas.
Ser
capaz de criar raízes não significa estar de acordo de como tudo ao
seu redor esta, da maneira como se vive e das pessoas as quais te
cercam, mas se sentir inteiramente confortável e satisfeito de como
elas estão. A mudança faz parte do processo dessa busca, ninguém
escapa, não adianta relutar. Hoje me vejo muito melhor do que estava
anos atrás, mas ainda existem muitas coisas que me tiram o sono.
Ficar estagnada, arrastando amigos, namorados e todas as demais
situações inúteis somente nos atrasa como partes de nossa própria
evolução interior. Pense nisso.
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