Não
há droga que me faça esquecer das perdas da vida. Já procurei de
muitas formas amenizar essa dor que carrego há tanto tempo e que a
cada ano se torna mais pesada. Sei que meu lamento não faz efeito
algum, minhas lágrimas somente irão escorrer pela minha face até
alcançar o chão e ali esperar secar. Meu peito que arranho com o
desejo desesperado de rasgar-me, puxar pra fora toda essa pressão
que pulsa, que me adoece, me enlouquece e me angustia. Dia após dia,
longas noites sem dormir, tantas palavras jogadas ao vento sem
ninguém escutar, e aqueles que escutam não conseguem compreender.
Ninguém entende, apenas tentam consolar. A raiva logo chega, junto
com aquela vontade de findar toda essa vida, que se faz tão
diferente daquilo que leio nos romances bonitos, nos poemas
românticos e que vejo nos filmes com finais felizes. Estou cansada
demais, sabe? Não quero saber quais são as respostas, gostaria de
não ter mais perguntas. Quantos mais irão passar, quantas vezes eu
ainda irei me iludir antes de tudo acabar? Não importa, eu não
quero mais. Quero poder me libertar, voar pra bem longe, sentindo o
barato que deve ser não estar fincado no chão. Minha cabeça dói,
não consigo respirar. Abstinência de vida.