Ninguém te diz o quanto será difícil nascer, apenas
somos gerados em algum momento, nos formamos durante um período pré determinado
e logo precisamos sair desse aconchegante lugar. Não fazemos ideia do que nos
espera do outro lado, mesmo assim somos condicionados a encarar o percurso. Sozinhos,
desde o princípio de nossa existência. Com isso, qual o motivo de nos sentirmos
incomodados com a solidão? Aquela necessidade de compartilhar bons momentos com
outras pessoas, de participar dos sorrisos, sermos lembrados, não se deixar
prender pela mesmice, sentir-se realmente e incondicionalmente viva. Reparar que
com o passar dos anos muitos se perderam por outros caminhos os quais já não se
encontram com os teus, não deixando nenhum vestígio perdido pelos lugares onde
costumavam estar, ou qualquer resquício de sua existência. Aos poucos também
desaparecendo de nossas mentes, passando de uma vaga lembrança para o total e
absoluto esquecimento.
Hoje me pergunto onde estava com a cabeça quando
decidi guardar e colecionar recordações em objetos materiais. Isso é totalmente
autodestrutivo! Sem contar no acúmulo infinito de coisas as quais apenas uma
pessoa é capaz de reunir ao longo dos anos. Quero me desfazer de tudo isso,
queimar cartas, fotos e presentes os quais já não signifiquem algo realmente
importante para mim. Não preciso passar por tudo outra vez, chorar por motivos
que já não fazem qualquer sentido, trazer à tona sentimentos passados e lembrar
de pessoas as quais não fazem diferença em minha vida hoje. Creio que não
preciso disso para saber que tive uma vida. Quero ser capaz de fazer o
contrário, ter cada vez menos bens materiais, coisas desnecessárias dentro de
minha casa, pessoas descartáveis e mesquinhas ao meu redor e ser. Apenas ser. Se
eu morresse hoje ainda não estaria em paz, e isso sim é um problema. No fim,
assim como no começo, estaremos sozinhos. Não?